Profissão: Atendimento.

21

AS AGÊNCIAS DE PUBLICIDADE ESTÃO MENOS CRIATIVAS

Aprovam muitos clichês hoje em dia, porque clichês facilitam a aprovação junto aos clientes. Por email, não se consegue defender uma ideia ousada, diferente, original. Experimente mandar por e-mail uma campanha assim, por certo, receberá de volta do Atendimento um simples: ASSUNTO: CAMPANHA, no corpo do email: “CLIENTE NÃO APROVOU. ACHOU MUITO INTELIGENTE PARA O NOSSO PÚBLICO”. E o que faz a criação? Volta para o computador perguntando qual é o novo prazo e tachando o Atendimento de burro, por que não conseguiu aprovar aquela puta ideia criativa, ousada e original.

O sistema é autofágico. A internet, não se discute, é excelente, mas é uma merda. A rapidez é necessária, mas nos tolhe a profundidade. Embota nosso questionamento. Hoje somos mais ágeis, damos respostas mais rápidas e superficiais. A perda do valor dado à coisa criativa dentro da agência, a banalização da criatividade, acaba se manifestando em perda de valor do trabalho criativo como um todo, e na consequente perda de receita das agências criativas. A DENSIDADE criativa é baixa nas agências, se comparada com a propaganda que se fazia há 10 ou 15 anos atrás. O ar está rarefeito e o aperto no pescoço das verbas publicitárias está sufocando o mercado publicitário. Mas repito: é autofagia. Seu modus vivendi vai matando as agências. 

Isso passa pela rapidez na criação, passa pela rapidez na defesa de uma ideia, passa pelo pouco caso, pela pouca pompa, pela facilidade em dizer não. E isso tudo, sem dúvida, passa pelo Atendimento, e claro, passa por e-mail. As idéias estão indefesas – ipsis verbis. Não há quem as defenda com vigor e veemência. Afinal, são tantas. Há uma infestação de ideias de segunda categoria parasitando as de primeira. A criação de qualidade, com conteúdo se mistura na caixa de entrada como spams. O bom e o ruim se misturam na internet.

Falo tudo isso, mas eu também envio peças para serem aprovadas por e-mail. Hoje atende-se clientes cada vez mais longe da sua base de atuação, graças a estes mesmos recursos. Constato isso – da autofagia do modelo- do mesmo modo que constatamos que nossas emissões de CO₂ dos escapamentos dos automóveis contribuem para o aumento do efeito estufa. Serve de constatação, de alerta e de reconhecimento da nossa incapacidade de evitar, sozinhos, o que parece sistêmico e muitas vezes maior que nós.